Saturday, January 4, 2025

São Martinho.




 Já se sente o cheiro das castanhas no ar frio de Outono

Com a balbúrdia das crianças já se desperta do sono,

Das castanhas assadas ou cozidas, o Outono em brincadeira

Que o tempo aquece-se à volta da lareira. 


Na lareira lá estão elas a crepitar,

Saem risos e correrias que é hora de São Martinho festejar,

Na sessão da melancolia uma pausa de Verão 

Que o tempo aquece à volta de cada coração. 


Em cada coração a história do santo que ajudou o pobre,

A miséria neste que a compaixão cobre, 

Por entre caras farruscadas, um exemplo para recordar

Que o tempo aquece o sonho de cada olhar.  

Amália.




Amália

Quanta voz nos destes, 

Quanto nos mergulhaste no fado,

Quanto da tua alma pusestes,

No fado por si encantado. 


Foram cantorias em criança,

Da voz reconhecida nasceu uma fadista,

Foi projectada como uma lança,

Sem nunca se perder de vista.


Do fado foi ao cinema,

Actriz na alma e no coração, 

O sucesso espelhado em cada tema,

Porque a voz foi sempre sua razão. 


Em várias línguas cantou sua arte

De Portugal foi voz e embaixadora,

Alto nos representou em harmonioso estandarte,

No palco e na vida, artista e Senhora. 


Amália que já partiste, 

Ficou a tua voz,

Eterna herança do tempo que sorriste, 

Eterna memória em todos nós.  

Brilha o sol na imensidão concreta do universo.

 





Brilha o sol na imensidão concreta do universo

Em cada espaço a retórica ambulante do vento

Do vento, espaço em cada céu,

No céu ambulante do tempo inverso.


Em cada estrela a atomicidade da reflexão, 

O sol brilhante no campo, na montanha, 

Ilusões e sonhos no mundo fantasista

Do tempo perdido da brava ilusão. 


Cada vento, tempestade de forças contrárias 

Ruim que voa na maledicência do tempo que foge,

Traz o vinho na conjuntura das festas findas,

Que o tempo seja as ilusões várias.


Falta a crescente suposição do futuro,

Em fontes de escrita e palavras desconexas

No universo da imensidão absurda

Pelo mundo perdido em tempo tão duro. 

Tributo a uma ginasta.

 


Em criança teve o sonho na alegria infantil do movimento,

Do sonho fez meta de realizar seu sentimento.

O sonho de ser ginasta, de ser esforço e perseverança, 

De ir além da possibilidade, de ir além da esperança. 


Foram horas de treino, de gestos repetidos até à exaustão,

De quedas que por vezes pareciam fazer do sonho angustiante ilusão,

Foram anos de dedicação, de luta intensa e constante

De alegria e também dor sem nunca desistir do sonho levante.


Na trave o equilíbrio mágico na aparência,

A falsa fragilidade de um corpo em forte eloquência, 

Nas barras brincar com a gravidade, voar, rodar, saltar, 

O efeito da constante impressão de dançar. 


Foste a nossa Olga, Nadia também,

Foste a imagem do sonho mais além, 

Foste o exemplo de um caminho difícil mas sem medo,

Que dele nasçam outros sonhos e ginastas cedo.


La tour, le carrousel et le ballon.



La tour qui salut Paris 

Qu’embrasse le carrousel et le ballon 

Avec sa lumière invitant a une réunion 

On se croit au paradis. 


Du carrousel, l’empereur guidant les cheveaux, 

La victoire devant le musée,

Au loin la tour dans le ciel, percée,

Un jaune comme celui du ballon radieux.


Le ballon des rêves et illusionniste

Pour quelque temps plus connu que la tour

Parlant avec le carrousel tous les soirs

Jusqu’au jour où ne sera plus qu’un au revoir.  

Eu podia ser simples.

 



Eu podia ser simples

Ter em cada dia a existência banal,

Mas a vida seria sem graça 

Porque seria sempre igual.


Podia acomodar-me no conforto da repetição,

Viver seguro a navegar um rio tranquilo

E simplesmente contemplar

As maravilhas disto e daquilo.


Mas que porventura seria vida assim,

Tão vazia de realidade,

Tão monótona por fim,

Sem um pouco de tempestade?


Dias de frio.

 



Dias de frio, o frio a correr la fora,

A saudade a apertar o coração,

E tu sem demora

A querer entrar na ilusão.

A ilusão da saudade, do tempo que que não volta,

Ficam as saudades das festas e risos 

Das conversas aquecidas num vinho,

Dos brincadeiras jogadas em tempo de felicidade, 

Dos tempos que passam sem querermos, 

Unidos em viagens nostálgicas,

Histórias em alegria construídas,

Como se o tempo de natal

Fosse o eterno tempo das alegrias vividas! 


Em cada desejo um sorriso,

Um tempo mágico em cada sonho,

Se no sonho há um desejo,

Há em cada desejo a ilusão de um tempo mágico. 


E em cada desejo o sonho de ir mais além, 

De em cada natal construir o sonho duma vida feliz

De ser mais que todo desejo,

E de ser desejo, o sonho que sempre quis. 


Em cada memória uma saudade,

Imagens em memória sem tempo,

Porque o tempo é assim eterno,

Guardado nas memórias da realidade. 


Tempos que não voltam mais,

Ficam as saudades, as festas como se fossem ontem. 

Em cada natal um tempo de emoção,

Guardado no peito como relíquia de nostalgia

Dentro de cada peito um tesouro 

De saudade e emoção em lágrimas de tristeza e alegria. 


E assim resta a memória,

Cada natal feito de emoção 

Porque o tempo é longa história, 

De saudade eterna no coração. 






Em pequeno sonhava…

 Em pequeno sonhava ser escritor,

Ver meu nome nas livrarias como consagrado autor,

Seria poeta, ficcionista, romancista e até ensaísta 

Daria ainda uns toques como filósofo e historiador. 


Em pequeno sonhava ser artista de belas-artes 

Dominar os pincéis e as cores, criar do nada

Esculturas como se tivesse mãos de fada

Obras expostas por todas as partes.


Em pequeno sonhava ser actor, argumentista

E até realizador, em suma ser parte de cinema,

Ser também campeão olímpico na maratona,

E dominar as corridas no campo, na estrada e na pista.


Em pequeno sonhava tanto que de tanto sonhar 

Esqueci a realidade 

e enquanto o tempo fugia e eu vivia na minha verdade

O mundo continuava e eu sem avançar.


Foi assim minha vida, tem sido assim a minha existência, 

Sou profissional dos sonhos, de muita imaginação,

De desejos insensatos e pouca consciência 

Sou um perdido na ilusão. 

Tenho saudades.

 Tenho saudades das paixões de adolescente

Onde o sonho era possível e a razão ausente,

Do tempo ingénuo onde um olhar era paixão

E um beijo derretia o coração!


Tenho saudades das histórias imaginadas

Com esta, com aquela e com todas as apaixonadas,

Da alegre simplicidade de ser criança, 

Da esperança sonhadora vivida numa dança. 


Tenho saudades dos tempos que não voltam mais

Dos sorrisos, aventuras e outras histórias tais, 

Porque o mundo é outro agora,

Sou um mero passageiro por esta vida fora!