Tuesday, February 21, 2017

A luta do leão contra o mar.

 

     Um leão adulto mas ainda jovem contemplava impassível o silêncio do mar como se estivesse a pensar sobre algo que o preocupasse. O mar ondulava em recordações do passado e receios do futuro e o leão na sua força física aparentava duvidas no seu pensamento. Enquanto continuava na sua reflexao, uma voz veio aproximar-se do seu ouvido esquerdo:
     - Entao meu jovem que fazes aqui com um ar tao sério?
     - Ah ola tio! - um imponente leão mas ja com um ar mais sábio, fazia agora companhia ao jovem leão. - Estava aqui a pensar numa coisa.
     - E que coisa é essa, posso saber?
     - Nao sei se deva dizer.
     - Sentes-te pouco à vontade por ser comigo? Estas apaixonado?
     - Nao e nao.
     - Bom nao te vou obrigar, vim apenas ver se estava tudo bem. - dito isto o tio começou a afastar-se lentamente quando o sobrinho o chamou de volta. Depois perguntou:
     - Tio, a vida corre-lhe bem nao é?
     - Sim, nao tenho razoes de queixa. Porque a ti, nao?
     - Nao era esta a vida que eu queria.
     - E lutaste pela vida que querias?
     - Admito que nao porque sinto sempre um enorme constrangimento em avançar, em arriscar, em lutar. Mas o pior nem é isso.
     - Entao o que é?
     - Deveria ao menos ter tentado pelos meus pais que tanto se sacrificaram por mim.
     - Ainda vais a tempo.
     - Agora?! Ja é muito tarde. Resta-me existir até deixar de existir.
     - Nunca é tarde para se lutar. Em todo o caso, se nao tentares vais viver sempre nesse receio do futuro e nessas duvidas sobre ti próprio.
    Nesse momento o jovem leão começou a olhar ainda mais seriamente para o mar. Esse mar tao perto e tao longe, esse mar tao imenso que convida ao receio e à aventura, esse mar que esconde historias nao vividas e que recorda mares do passado, esse mar que hipnotiza, que convida, que brinca com a mente do jovem leão, de repente este corre como um aparente tolo em direcção à agua. Corre sem parar, corre com vontade, o tio preocupa-se e diz que o sobrinho enlouqueceu, tenta para-lo mas já é tarde:
    - Que estas a fazer? Volta pra tras, tu nao sabes nadar!
   Mas o sobrinho ja nao ouvia mais nada e nadava sem medo nesse mar imenso. Ao longe, o tio so pensava:
    - Quem diria!

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