Friday, June 30, 2017

Na estrada...(poema em tributo às vítimas mortais do incêndio de Pedrogão Grande)





Na estrada jaz o luto
Frio, desprovido de compaixão,
Arrasta em si o silêncio de quem
Não mais regressa
E a dor de quem ficou para lamentar.
Na estrada sente-se o tempo
De quem já não está,
A tristeza, já traço perene a seguir
Os nomes gravados no memorial colectivo
Da saudade que nunca há-de partir.
Na estrada famílias que já não se contam
Abraços apertados, últimos instantes
A imaginação por vezes é sofrimento
O calor já não é humano
Excepto pelo último suspiro, no último momento.
Na estrada contam-se os dias
Os que foram passado e os que nunca hão-de vir
Casas vazias sem os sinais de outros tempos
Uma conversa, uma festa, um triste reencontro ou alguém a sorrir.
Na estrada as cinzas recordam-nos que ali houve vida
Ali onde o tempo parou naquela hora
Resta esperar que não foram 64 em vão
Que na natureza se rejuvenesça sem demora
E o renascer da fênix não seja uma ilusão.

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